Inteligência Artificial e Sustentabilidade: O custo ambiental que quase ninguém vê
- Gustavo Loiola
- 11 de abr.
- 2 min de leitura

Nessa última semana, não faltaram posts criativos nas redes sociais: pessoas se transformando em personagens de quadrinhos (e também os memes famosos como esse da imagem), em pets, em versões estilo Ghibli ou futuristas — tudo com a ajuda da inteligência artificial generativa. Ferramentas como o ChatGPT, Gemini, DALL-E e tantas outras estão cada vez mais presentes no nosso dia a dia, tornando a IA algo acessível, interativo e -divertido.
Mas em meio a essa empolgação, um ponto importante está ficando de lado que é o impacto ambiental do uso crescente da IA? Por trás de cada clique, há água e energia sendo consumidas. Apesar de parecer que usar IA é algo “limpo”, é interessante refletir sobre alguns dados. Por exemplo, gerar apenas 100 palavras com o ChatGPT consome, em média, 519 ml de água — praticamente uma garrafinha inteira (fonte nos comentários). Essa água é usada para resfriar os servidores dos data centers que tornam nossas interações possíveis.
Já em termos de energia, a estimativa é que esse mesmo volume de texto consuma cerca de 0,14 kWh — o suficiente para manter 14 lâmpadas LED acesas por uma hora. Agora pense nisso multiplicado por milhões de usuários ao redor do mundo, em interações que acontecem 24 horas por dia.
Além disso, o treinamento dos modelos de IA consome uma quantidade ainda maior de recursos. Um estudo divulgado em março pelas Universidades Colorado Riverside e Texas Arlington, estima que o treinamento de um modelo como o GPT-3 pode consumir cerca de 700 mil litros de água.
É importante reconhecer: a IA tem um enorme potencial para apoiar a sustentabilidade. Ela pode otimizar cadeias logísticas, prever eventos climáticos extremos, melhorar o uso de recursos e apoiar decisões mais conscientes em empresas e governos.
Mas existe um paradoxo: quanto mais usamos a IA, mais recursos naturais ela exige — especialmente se esse crescimento não vier acompanhado de inovação sustentável e de políticas que orientem o desenvolvimento de tecnologias com menor pegada ambiental. Mas como mudar o cenário?
Proponho aqui algumas reflexões:
Maior transparência sobre o consumo de água e energia pelas grandes empresas de tecnologia - isso ainda não é claro e amplamente divulgado;
Data centers mais verdes, com fontes de energia renovável e sistemas de resfriamento mais eficientes;
Regulações e incentivos para a inovação com foco em baixo impacto ambiental;
E, claro, consumo consciente por parte de todos nós: entender que, por mais digital que pareça, cada interação com a IA tem uma pegada física no mundo real.
Se queremos que a tecnologia esteja a serviço de um futuro mais sustentável, precisamos incluir a IA na conversa sobre impactos ambientais. Assim como discutimos emissões da indústria ou da agropecuária, precisamos olhar também para os bastidores digitais que sustentam nossas interações online.
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